segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Polémica


Violeta Urmana.
Começou como “mezzo”, passou a “soprano”.
Já cantou Wagner, Verdi, Puccini, Ponchielli, Richard Strauss. E outros.
Mas não é uma "primeira figura". Longe disso.

Numa entrevista recente, afirmou:

“Não faço efeitos especiais para a galeria. Mesmo que isso signifique não seguir as pisadas de algumas grandes divas, como a Callas, que algumas vezes modificava notas para brilhar, sem acrescentar nada à partitura. Não é justo nem bonito.
Creio que o critério para reconhecer o bom canto nos nossos dias, não pode ser feito em relação com o passado. O gosto mudou, e não nos podemos basear apenas nos discos.”

Polémico, no mínimo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O par de Modena


E já que falamos em duos famosos, não posso deixar de referir o par de Modena.
Ambos nasceram na mesma cidade e no mesmo ano, 1935.
Gravaram juntos muitas óperas, algumas das quais perfeitamente inesquecíveis, como "La Bohème", "L'Amico Fritz" ou "L'Elisir d'Amore".
Aquando do falecimento do grande tenor, a RAI, que transmitiu em directo o funeral, convidou Freni para comentar. Durante mais de uma hora, o soprano não conseguiu quase falar. Só chorava. Esse documento é quase arrepiante, e está disponível no "site" da estação italiana.
Amigos de infância, atingiram o estrelato naturalmente, porque as suas vozes são únicas.
Luciano.
Mirella.
Será que a Itália nos dará um dia outro par semelhante?

sábado, 20 de setembro de 2008

Grandes duelos (2)



Uma vez mais, duelos entre cantores.
Já aqui falámos da rivalidade entre Callas e Tebaldi, e dos tenores que normalmente as acompanhavam.
Agora a história repete-se.
Gheorghiu / Alagna e Netrebko / Villazon.
São os pares que estão na ordem do dia.
Conheço fanáticos de ambos os sopranos, que pouco ligam aos tenores.
Angela Gheorghiu e Anna Netrebko são, de facto, espantosas. Villazon será (ainda não é, na minha opinião) um óptimo tenor, e Alagna será, acima de tudo e talvez com alguma injustiça, reconhecido como o marido...
A promoção destes artistas é brutal, os espectáculos sucedem-se, alguns excessos de vedetismo surgem, a vida privada devassada como se de estrelas de Hollywood se tratasse.
Qualquer que seja o gosto pessoal de cada um, estas são, indiscutivelmente, as grandes figuras da Ópera do princípio do século XXI.

Ou pelo menos aquelas que as editoras mais promoveram...



terça-feira, 16 de setembro de 2008

Carlos Guilherme

É o tenor português mais conhecido, na actualidade.
Carlos Guilherme (nasceu em 1945) viveu boa parte da sua vida em Moçambique, onde a sua voz era muito apreciada. Mas o seu primeiro papel em ópera aconteceu na então Rodésia, onde cantou o “Ricardo” de “Um Baile de Máscaras”.
Em Portugal, estreou-se na Amadora em 1981, cantando o “Mr.Pierre” de “A Vingança da Cigana”, e nesse mesmo ano em S.Carlos com o “Malcolm” do “Macbeth”, com Renato Bruson no papel principal. E desde então, tem sido presença assídua naquela sala, interpretando os mais variados papéis.
Membro da Ópera de Câmara do Real Teatro de Queluz, com Elsa Saque, Wagner Dinis e Ana Ferraz, o tenor tem cantado pelo país inteiro, sendo seguramente uma das poucas figuras conhecidas do mundo da ópera portuguesa, junto da opinião pública.
Prémio “Tomás Alcaide” em 1985.

Já lhe perdoei o ter emprestado a sua voz a anúncios de peixe congelado...porque percebo quão difícil é a vida para um cantor lírico em Portugal.

(Fonte: “Cantores de Ópera Portugueses” de Mário Moreau)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Peter Glossop

Peter Glossop (1928-2008).
"Morreu o "Iago", pensei de imediato ao ter conhecimento da sua morte.
Para mim, Glossop era, é e sempre será, o "Iago".
Embora este barítono inglês tenha começado a notabilizar-se em óperas de Britten ("Sonho de uma Noite de Verão", "Billy Bud", entre outras), com que se estreia na Royal Opera House no início dos anos 60, é em Verdi que encontra os papéis que o tornariam mais conhecido.
Estreia-se no La Scala, em 1965, com "Rigoletto", e no MET os seus maiores sucessos acontecem com o Don Carlo de "A Força do Destino" e "Falstaff". Também cantará "Macbeth" e um outro Don Carlo em "Ernani".
Mas é Karajan, nos anos 70, que lhe proporciona o seu "Iago", num elenco de luxo com Freni e Vickers, no melhor "Otello" que conheço.
É precisamente esse "Iago" eterno que vamos recordar.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Anna Tomowa-Sintow

“Crescemos e fomos educados nos anos pós-guerra, com uma disciplina muito severa e uma grande seriedade em tudo o que fazíamos. Muito do que hoje em dia se pode obter com dinheiro, apenas se podia alcançar, naquela época, através do nosso talento, e com respeito e humildade pela Arte – com o coração completamente aberto para a grande verdade na música. Desconhecíamos o que era o “marketing pela fama”.
No meu entender, o marketing é muito perigoso, algo que me preocupa. É claro que a publicidade é importante, e sempre foi. E embora Arte e negócio sempre estivessem e estejam ligados uma ao outro, o materialismo em excesso é prejudicial para os cantores. Devemos preservar a nossa capacidade criativa e deixá-la brilhar”.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Génese de Grandes Óperas (5)

Por volta de 1870, na Calabria, um homem, palhaço de profissão, era julgado por ter morto a mulher.
“Está arrependido?”- perguntou o juiz, antes da sentença.
“Não estou arrependido de nada. Se tivesse de o fazer outra vez, fá-lo-ia.”
A assistir ao julgamento, estava o jovem filho do juiz. Chamava-se Ruggiero Leoncavallo (foto de cima). E vinte anos depois deste julgamento, o jovem era um compositor frustrado e sem sucesso, o que naturalmente o desgostava. Até porque um outro compositor, bem mais novo do que ele, acabara de escrever uma pequena ópera, em apenas um acto, que se tornara um êxito internacional. A ópera chamava-se “Cavalleria Rusticana” e o autor era Pietro Mascagni (foto de baixo).
Um dia, Leoncavallo fechou-se no seu quarto e, recordando o julgamento a que assistira, começou a escrever “Os Palhaços”, compondo a música em simultâneo. Demorou cinco meses.
Estreou em Milão, no Teatro dal Verma, em Maio de 1892, sob a batuta de um jovem maestro de 25 anos, Arturo Toscanini. Foi um sucesso estrondoso.
E seria exactamente Toscanini quem juntaria pela primeira vez a “Cavalleria” e “Os Palhaços”, em Roma. Logo se verificou que as duas óperas “encaixavam” como as peças de um puzzle. São as chamadas “óperas gémeas” desde então, sendo difícil encontrar a produção de uma, sem que a outra a acompanhe.
“Cav and Pag”, como os ingleses ainda hoje lhes chamam, catapultaram os seus autores para a fama internacional. E embora muitos críticos considerem que não são as suas melhores óperas, a verdade é que sem elas poucos conheceriam Leoncavallo e Mascagni.

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