quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Ópera e Televisão



Eu sei que as televisões, públicas e privadas, vivem da publicidade, e que esta procura os programas de maior audiência, para aparecer em avalanches de patéticos anúncios.
Como estes programas são, quase sempre, para as grandes “massas”, pouco exigentes, temos diariamente, no horário nobre, novelescas e secas tramóias de alguidar, produções luso-brasileiras para contentar os dois lados do Atlântico e pouco mais.
E as minorias?
Os que, por exemplo, gostam de ópera?
Qual a resposta da televisão pública a estas questões?
Sabem há quanto tempo a televisão não transmite uma ópera?
Eu sei, mas deixo à vossa curiosidade. Verão que quando descobrirem, acharão impossível.
E digo ainda que essa última oportunidade que os senhores responsáveis nos deram de assistir em casa a um espectáculo lírico, começou, num dia de semana, à 1,20 da manhã, e teve a duração de 191 minutos, com um intervalo de 6 minutos. Ou seja, deitei-me perto das 5 da manhã…
E depois ficam espantadíssimos a olhar para o ridículo “share” que estas transmissões originam, e que servem de justificação para não voltar a repetir.
É uma vergonha!
Aqui ao lado, a televisão pública espanhola, cuja (falta de) qualidade é idêntica à nossa, teve a preocupação de criar um canal, estilo “RTP Memória”, onde passa concertos, ópera, bailado, antigos e recentes.
Isto já é serviço público.
Até que alguma alma caridosa se lembre deste e de outros exemplos, resta-nos comprar e ver os DVD que vão saindo.
Sina de português minoritário…

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Flórez



Não é vulgar, diria mesmo que é raríssimo, um cantor bisar uma ária em qualquer ópera.
Os aplausos podem durar minutos, tudo pára, mas a ópera prossegue como se não tivesse havido qualquer interrupção.
Que me lembre, nas últimas quatro décadas, só Franco Bonisolli, um tenor que não entra nos meus favoritos, bisou o “Di Quella Pira” do Trovador.
Mas aconteceu novamente.
Juan Diego Flórez, de que já aqui falei por o seu timbre de voz ser semelhante, em alguns aspectos, a Alfredo Kraus, bisou “Ah, mes amis” da “Filha do Regimento”.
E pasme-se, no Scala!
É um feito que não está ao alcance de qualquer um, e o espanto é maior quando se trata de um jovem tenor de apenas 34 anos.
A sua carreira será certamente brilhante, e este “feito” ficará nela, para sempre, marcado.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

A "Voz de Anjo"



Estreia-se com 22 anos na “Elena” do “Mefistófeles”, em 1944.
A Europa estava em guerra, e no fim desta, é convidada por Toscanini para a reabertura do grande Scala com o “Te Deum” de Verdi. O sucesso foi estrondoso.
Seguiram-se inúmeras aparições nos palcos italianos, em 49 canta em Londres e em 1950 em S.Francisco com o “Otello”.
A rivalidade com Callas era enorme. Os apoiantes de uma assobiavam a outra. E nenhum desses grupos tinha razão, porque eram ambas extraordinárias.
Verdi e Puccini, principalmente este, tiveram em Renata Tebaldi uma intérprete dificilmente superável.
Terminou a sua carreira em 1976 no Scala.
E nunca aceitou ser professora de ninguém.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Karajan



Karajan marcou uma época.
Pela sua qualidade, pelo seu rigor, pela exigência com que abordava qualquer peça, qualquer orquestra, qualquer intérprete.
Reparem, numa gravação das inúmeras existentes em DVD, nas suas mãos. É um espectáculo dentro de outro.
A concentração com que regia é soberba. O respeito que infundia, admirável.
Foi regente da Filarmónica de Berlim durante 35 anos, leram bem, 35 anos, sucedendo a outro “monstro sagrado” que foi Wilhelm Furtwangler.
Todo o mundo conhece este Maestro.
As orquestras que regia têm um som diferente, e estou a lembrar-me de um fabuloso “Tristan und Isolde”, como nunca ouvi igual.
Karajan.
Para sempre.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Alfredo Kraus


Não tem a fama dos “3 tenores”, nem beneficiou da oportunidade que esses tiveram de encantar o grande público a partir de 1990, pois nessa altura já tinha ultrapassado os 60 anos, e não estava no seu apogeu. Na verdade, a Ópera “abriu” as portas para as multidões, nesses concertos.
Alfredo Kraus foi, no entanto, um tenor excepcional, com um timbre muito próprio, que hoje, a espaços, Juan Diego Flórez nos faz recordar.
Nascido em Las Palmas em 1927, estreia-se no Cairo, em 1956, interpretando o “Duque de Mântua” do “Rigoletto”, papel que o viria muito justamente a impor no meio lírico. Logo no ano seguinte aparece no “Alfredo” da “Traviata”, que cantará em 1958, ao lado de Callas, no S.Carlos. É aqui que se inicia o sucesso, e Kraus nunca o esqueceu, vindo inúmeras vezes a Lisboa cantar, na época em que era primeira figura em qualquer palco do mundo. Lembro-me perfeitamente de o ver num “Trovador” excepcional com Fiorenza Cossotto, em 1973, e num “Werther” impressionante ao lado de Ileana Cotrubas.
Estreou-se no Scala em 1960, no “Elvino” da Sonâmbula.
Para mim, ninguém cantou melhor o "Duque" do Rigoletto, o “Werther”, e o “Edgardo” da “Lucia”.
Como já disse num post anterior, foi o primeiro tenor que “conheci”, num velhinho LP, no “Rigoletto” com Scotto e Bastianini.
Fará sempre parte da minha lista de eleitos.
Da minha e na de muitos.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Boris



Para mim, o melhor “baixo” que alguma vez ouvi.
Era menino e já cantava no coro da Catedral de Sófia.
Formou-se em Direito e seguiu a magistratura, mas nunca abandonou o coro, em 1940 era solista, com 27 anos, e todos perceberam que estavam perante um cantor de excepção. Tanto assim, que o governo búlgaro atribuiu-lhe uma “bolsa” e Christoff partiu para Itália, em 1942, para se aperfeiçoar ainda mais.
Estreou-se em 1946, na “La Bohème” como Colline, e nos anos seguintes canta nos principais teatros italianos, (La Scala, Fenice, Ópera de Roma) e não só (Convent Garden, Liceo de Barcelona e…S.Carlos em Lisboa).
Em 1950 é convidado para cantar no MET de Nova York, mas não lhe é concedido visto de entrada nos Estados Unidos, por ser cidadão do bloco soviético.
Só conseguiu cantar neste país seis anos mais tarde, em S.Francisco. Recebeu depois muitos convites do MET, mas nunca aceitou.
Em 1967 foi-lhe permitida a entrada no seu país, pela primeira vez desde 1945, para assistir ao funeral da mãe.
Quando morreu, em Roma, o corpo foi trasladado para a Catedral de Sófia, onde cantara muitos anos, e aí teve funerais de Estado. Estávamos em 1993, Christoff morrera com 79 anos.
O seu “Boris Godunov” é de antologia, e se destaco esta ópera, é porque, de facto, não há nenhuma interpretação que se possa comparar.
Boris Christoff. O meu “baixo” de eleição.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Bem Visto !


Fiquei na dúvida se havia de colocar este post neste blogue ou no “Arte Setima”, mas decidi-me por este. Afinal, estamos a falar de ópera.
Sofia Coppola, uma das grandes revelações dos últimos anos na realização cinematográfica, (“Lost in Translation”, “Marie-Antoinette”, entre alguns outros sucessos) foi convidada pela Ópera de Montpellier a dirigir, na temporada de 2009/2010, a “Manon Lescaut” de Puccini, que ali irá subir à cena.
E para “apimentar” ainda mais a expectativa, será bom dizer que o Cavaleiro Des Grieux será cantado por Roberto Alagna, cujo recente protagonismo no “La Scala”, onde abandonou uma récita por ter sido apupado no final de uma ária, não deixa prever facilidades no relacionamento com a jovem realizadora…
Aqui só entre nós, e é obviamente gosto pessoal, aprecio bem mais a arte da realizadora do que os créditos vocais deste tenor. Pelo que aguardo com natural curiosidade a estreia da primeira no mundo da lírica.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Tomaz Alcaide



O maior tenor português de todos os tempos.
Nasceu em Estremoz em Fevereiro de 1901.
Tomaz Alcaide.
Aparece pela primeira vez em público no São Carlos, em 1923, no "Rigoletto", substituindo à última hora um “Duque” que adoecera, e fê-lo de tal maneira, que de imediato partiu para Itália.
Estreou-se oficialmente no Teatro Carcano, em Milão, em 1925, representando o papel de Maestro Guglielmo na “ Mignon” de Thomas, permitindo-lhe assim “abrir as portas” do mercado italiano, o que na época significava do mercado europeu. Em 1926 cantou novamente o Duque do “Rigoletto” ainda em Itália, mas também o “Fausto” na Suiça. E nos anos seguintes, cantou em quase todas as grandes salas.
Em 1930 estreia-se no La Scala, e em 1931 no Festival de Salzburgo.
A sua gloriosa carreira continuou por toda a Europa até 1939.
Com a Guerra, Alcaide parte para a América do Sul, triunfando sempre no Colón de Buenos Aires e no Teatro Municipal de São Paulo.
Em 1949 regressa a Portugal com o estatuto que bem merecia, sendo-lhe confiada a direcção do Teatro da Trindade, que rivalizava com o São Carlos na qualidade da oferta lírica ao público de Lisboa.
Decidiu retirar-se dos palcos em 1952.

Tomaz Alcaide está, como quase sempre acontece aos “grandes” em Portugal, muito esquecido. Para além da estátua e de um centro cultural na sua terra natal, e de uma rua com o seu nome em Évora, pouco mais se fez em homenagem a este enorme cantor.
Lembram-se de algum outro cantor de ópera português que cante, hoje em dia, no Scala, em Salzburgo ou no Colón?
Pois…
O grande tenor morreu em 1967, em Lisboa.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Tito Gobbi


Estreou-se em 1935, como Conde Rudolfo na “Sonâmbula”, mas só sete anos depois apareceria no La Scala, onde cantou o Belcore do “Elixir de Amor”.
E desde aí, a sua carreira não teve paragens, o seu talento espalhou-se por todos os palcos líricos, a sua voz única deliciou multidões, a teatralidade com que compunha cada um dos seus personagens reconhecida como genial.
Ninguém esquecerá o seu “Scarpia” na Tosca (nomeadamente aquele em que canta com Callas no Convent Garden), “Os Palhaços”, o seu “Rigoletto”.
Participou em 25 (!) filmes, feito absolutamente extraordinário para um cantor de ópera, bem justificativo da sua capacidade como intérprete.
Tito Gobbi é, na minha opinião, o melhor barítono.
Ouvi-lo é puro prazer.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Renata Scotto


A primeira ópera que tive, ainda no tempo dos LP’s, foi o “Rigoletto” com Alfredo Kraus, Renata Scotto e Ettore Bastianini (já existe em cd). Um elenco de luxo.
Estávamos em 1966. Eu tinha 12 anos.
Ouvi-a tantas, mas tantas vezes, que pouco tempo depois sabia a ópera de cor.
E evidentemente que estes três cantores abriram, com lugar de destaque, a galeria dos meus preferidos, a qual foi engrossando com o decorrer dos anos.
Hoje vou lembrar Renata Scotto, a “piccola Renata”, como sempre foi considerada em Itália, por fazerem a comparação com a outra Renata (Tebaldi), considerada a “grande”.
Mesmo “pequena”, Scotto foi uma enorme cantora.
Soprano de grande capacidade e técnica vocal, era também uma excelente actriz, vivendo intensamente os seus papéis, e foram muitos.
Percorreu os universos de Bellini, Verdi, Puccini, Cilea, Giordano, e Donizetti, com uma invulgar capacidade de adaptação às suas características intrínsecas. Interpretou mais de 45 papéis, desde o início dos anos 50.
É agora uma apreciada professora de canto.
Com 73 anos, Renata Scotto tenta transmitir, às gerações mais novas, o muito que sabe, e que as gravações existentes, e muitas são, nos permitem não só recordar mas guardar para a posteridade.
Oxalá seja bem sucedida!
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