quinta-feira, 29 de novembro de 2007

"Requiem"

Façamos uma pausa nos textos sobre as óperas de Verdi, mas continuemos com o compositor.
Ouçamos uma “preciosidade”.
Do “Requiem”, duas intérpretes de excepção, Fiorenza Cossotto e Leontyne Price.
Sem mais comentários.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

As Óperas de Verdi (5)


Verdi esteve sempre em contacto com Paris, embora dela não gostasse muito. “Rigoletto” mostra clara influência de “Roberto do Diabo” e foi mais através das óperas francesas do que das de Wagner que se foi educando gradualmente para ideais mais altos do que os da sua juventude.
Em 1855 a Ópera de Paris encomendou-lhe um trabalho; daqui resultaram “Les Vêpres Siciliennes”, ópera em que Verdi parece ter feito o possível por imitar Meyerbeer. A ópera importante que se lhe seguiu foi “Un Ballo in Maschera”. O seu libreto pôs novamente Verdi em contacto com as habituais complicações da censura, e a história, à qual veio a fixar-se finalmente a música, é do mais ridículo que possa imaginar-se. Porém, apresenta-nos algumas páginas de magnífica música e além disso, é notável pela combinação de elementos claramente cómicos e da mais horripilante tragédia.
Verdi tinha o agudo sentido dos efeitos teatrais mas em geral, pouco senso crítico para julgar os libretos, embora tenhamos de fazer-lhe a justiça de atribuir culpas à censura, tal a maneira como foram cortadas as suas primeiras óperas. Verdi queria tratar situações arrepiantes, e sobretudo personalidades fortemente vincadas, como Lady Macbeth ou Rigoletto, isto é, que pudesse pintar com a sua infalível vivacidade e crua sinceridade de expressão. “Un Ballo in Maschera” não enfermava apenas do absurdo da história, mas também de infelicidades de linguagem que se tornaram proverbiais na Itália de então.
Vamos ouvir Elisabete Matos e Denis O’Neil.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

As Óperas de Verdi (4)


Em “La Traviata” Verdi tentou a experiência de pôr em música um trágico drama da vida contemporânea. De novo tomou como base uma bem conhecida peça – A Dama das Camélias – de Alexandre Dumas, Filho, que vira representar em Paris, em 1852. O inêxito da ópera, aquando da estreia, foi atribuído à fraca qualidade dos cantores, e muito especialmente, à corpulência da heroína, que na peça era uma tísica; mas muitos pensam que o verdadeiro motivo do desastre foi a recusa da plateia em tolerar uma ópera – e ainda por cima uma tragédia – vestida “à moderna”. O resultado foi que, durante muitos anos, “La Traviata” foi sempre levada à cena vestida à maneira de qualquer época remota, embora fosse permitido habitualmente que a heroína usasse luvas de última moda e todas as jóias que entendesse. Em tais condições não é de admirar que os músicos sérios olhassem a ópera com um desprezo total. Situação que, como sabemos, o tempo veio corrigir.
“La Traviata” é historicamente muito importante, pois é a primeira tentativa de tratamento operático de uma tragédia doméstica que teve êxito. Foi precedida por duas outras óperas, também de Verdi: “Luísa Miller” (Nápoles, 1849), baseada numa peça de Schiller, e “Stifellio” (Trieste, 1850).
Esta última viria a ser renegada pelo próprio Verdi, que usou a música para outra sua ópera, “Aroldo” (Rimini, 1857) .

domingo, 18 de novembro de 2007

As Óperas de Verdi (3)


A primeira ópera a evidenciar o verdadeiro génio dramático de Verdi foi o seu “Rigoletto” (Veneza, 1851), escrito sobre um libreto baseado na peça de Vítor Hugo “Le Roi S’Amuse”. A peça de Hugo causara escândalo quando se estreou, em 1832, e é bastante possível que Verdi a tivesse escolhido por isso mesmo, tal como Mozart para “As Bodas de Fígaro”, peça que fora proibida ostensivamente, por razões morais.
Houve as obstruções habituais, mas depois de terem transformado o histórico rei de França num imaginário Duque de Mântua, o libreto foi aprovado pela censura.
“Rigoletto”, um drama de paixões violentas e daquilo a que se chama “situações fortes”, atraiu Verdi porque o herói da peça, em vez da personagem vulgar obviamente simpática, tenor da companhia e nada mais, era uma criatura de emoções complexas, externamente de figura hedionda, apenas interessante pelo mais secreto fundo da sua personalidade.
Mais duas óperas de Verdi apareceram em 1853: “Il Trovatore”, em Roma, e “La Traviata”, em Veneza; a primeira foi um êxito estrondoso e imediato; a segunda um desastre. “Il Trovatore” seguiu o caminho aberto por “Rigoletto”; baseia-se num drama espanhol que mostra influências do sensacionalismo de Vítor Hugo, mas com um lirismo específico. A peça espanhola foi concebida como drama poético em que a mesma poesia justificava a violência da paixão, Era por isso bem apropriada para dela se fazer uma ópera, e nos dias de hoje, que as óperas de Verdi já ganharam certa “patine” de classicismo, podemos aceitar os absurdos da história como preço das emoções que a ópera apresenta com irresistível e intenso fervor.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

As Óperas de Verdi (2)

A primeira ópera importante de Verdi foi “Nabucco”, estreada em 1842, em Milão.
A sua principal atracção era o tocante coro dos judeus cativos, que logo na estreia originou a associação de Verdi ao movimento de “Risorgimento”, já então em plena explosão. O “Va Pensiero” seria entoado por milhares de pessoas nas ruas de Milão, no funeral do compositor.
Outro belo coro que foi adoptado pelos patriotas era da ópera “I Lombardi”, e referia-se à primeira visão de Jerusalém dos cruzados italianos.
Hoje, dificilmente se poderá compreender a quantidade de obstáculos postos no caminho de Verdi pelas autoridades governamentais, quer austríacas, como em Milão e Veneza, quer papais, como em Roma, quer ainda napolitanas.
Quando o grande soprano Giuditta Pasta (Bellini compôs “La Sonnambula” e a “Norma” para ela) foi a Londres, em 1833, anunciou que escapara à prisão por muito pouco, quando em Nápoles pronunciou em palco a palavra “libertà”. A censura proibia tudo o que pudesse ser interpretado como ridicularizando ou mostrando aversão pelas autoridades, e por reis ou imperadores de qualquer época; toda a alusão à Igreja era perigosa e o uso de qualquer palavra que pudesse ter ligação com assuntos religiosos era também proibido; todas as representações de conspirações ou conjuras eram radicalmente impossíveis. A tirania que Verdi teve de sofrer era particularmente grave para os poetas que pretendiam criar óperas a partir dos dramas românticos franceses.
“Ernani”, estreada em 1844 em Veneza, marca o primeiro contacto de Verdi com Vítor Hugo, e “Macbeth”, que pela primeira vez foi apresentada em 1847 em Florença, a sua primeira aproximação de Shakespeare.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

As Óperas de Verdi (1)

Começou a carreira quando a ópera italiana estava no seu ponto mais baixo; Rossini retirara-se de cena, Bellini morrera e Donizetti fora atingido pela alienação mental.
De início, pouco distinguia o jovem Verdi da multidão de mediocridades cujos nomes e obras estão hoje completamente esquecidos, mesmo em Itália, e o próprio Verdi não pensava senão em escrever óperas que tivessem um êxito popular imediato. Os críticos seus contemporâneos rotularam esses primeiros trabalhos de estilo grosseiro e brutal, bastante apropriado para uma nova geração de cantores de extensas e fortes vozes mas sem requintes ou elegância de técnica, como a que fora característica dos grandes intérpretes de Bellini.
Na sua mocidade, Verdi tivera grande prática da escrita para filarmónicas na sua terra natal, Bussetto, e o estilo de banda é muito evidente em todas as suas primeiras obras. Muitas delas têm mesmo uma verdadeira banda no palco, atrás do cenário, além da orquestra normal, e o que toca é no estilo militar barato do seu tempo, seja qual for a situação dramática ou a época da acção teatral.
A maior sorte de Verdi nos primeiros passos da sua carreira foi terem, de certo modo, associado a sua música com o movimento patriótico que viria a conseguir expulsar os austríacos do território italiano e unir todo o país sob a coroa da Casa de Sabóia.
Pessoalmente, Verdi sempre se declarou completamente fora de toda a política, mas considerando as eternas preocupações que tivera com a censura austríaca a propósito de quase todas as suas primeiras óperas, não é de surpreender que se regozijasse com a oportunidade de estimular a revolução com o ardor impulsivo dos seus trechos. E fê-lo beneficiando em larga medida do seu talento melódico: durante gerações e gerações as suas árias foram as favoritas de todos os realejos. Hoje em dia, em que não há música nas ruas, verifica-se um extraordinário acréscimo de apreço pelas óperas antigas de Verdi, e maestros e empresários dedicam-se à sua reabilitação, mesmo as que, aquando da estreia, foram relativos insucessos.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Richard Wagner



Há muitos, muitos anos, ofereceram-me uma ópera de Wagner.
Eu ainda era jovem, e a ópera italiana preenchia todos os requisitos que julgava necessários para se gostar verdadeiramente de ópera.
Verdi, Puccini, Donizetti, Bellini e Rossini.

Mas…quem me deu aquele presente achava que ia sendo tempo…de conhecer o mestre alemão.
E escolheu “O Ouro do Reno”.
Antes, explicou-me o “Anel” em pormenor, deixando-me um pequeno livro com a história completa, em tradução brasileira, preciosidade que ainda hoje guardo.

Li.
Ouvi a ópera.
E não gostei.

Durante muito tempo, fui trocando argumentos.
Mas continuava a não gostar.
A situação só se alterou anos depois, isto é, na altura própria, e hoje Wagner integra a minha discoteca com uma parte “de leão”.
Na minha opinião, para se gostar de Wagner é preciso ter maturidade.
Concordam?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Fritz Wunderlich



Hoje em dia, são poucos os que se lembram de Fritz Wunderlich (1930 – 1966), tenor alemão que morreu muito novo, mas que se celebrizou, ainda assim, na interpretação das óperas de Mozart.
Com muitas dificuldades económicas, trabalhava desde jovem numa pastelaria, custeando dessa maneira os estudos musicais, incentivado pelos clientes que o ouviam cantar enquanto trabalhava.
Com uma voz cristalina, Wunderlich também se notabilizou nos ciclos de Lieder de Schubert e Schumann.
Uma queda numas escadas terminou abruptamente uma carreira de sucesso, e ainda pior, uma vida que alcançava a glória por que tanto lutara.
Ei-lo no Tamino da “Flauta Mágica”.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Dietrich Fischer-Dieskau



Incorporado no exército alemão com apenas 18 anos, em 1943, Dietrich Fischer-Dieskau seria, pouco tempo depois, capturado pelos aliados em Itália, passando os dois anos seguintes como prisioneiro de guerra. E é nessas circunstâncias que começa a cantar Lieder para os seus companheiros de prisão.
Apesar de ter interpretado muitas Óperas, principalmente na Alemanha, mas também em outros palcos europeus, este grande barítono é um dos “ex-libris” do Lieder.
Na verdade, começando bem cedo (desde 1951) a gravar, acompanhado por virtuosos do piano como Gerald Moore, Dieskau ocupa um lugar ímpar, a tal ponto, que numa sondagem recente, levada a efeito por uma revista norte-americana, o barítono aparece no Top 10 dos melhores cantores de sempre.
Pessoalmente, gosto bem mais de o ouvir em Lieder do que em Ópera. Julgo que, para muitos papéis, lhe falta a “emoção” dos grandes barítonos italianos, sem a qual muitos papéis ficam... sem graça.

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