segunda-feira, 28 de julho de 2008

Óperas pouco ouvidas (5)



Continuador de Monteverdi, Francesco Cavalli (1602-1676) foi um dos que mantiveram a supremacia da ópera de Veneza, após o desaparecimento do Mestre.
Compôs muita música religiosa, a qual não chegou aos nossos dias, contrariamente às mais de 40 óperas de sua autoria, das quais há registo, representadas sobretudo no Teatro San Cassiano.
Diria que a única ópera de Cavalli que mereceu alguma atenção no século XX, foi “La Calisto” (Prólogo e 2 actos), estreada em 1651.
Deusas e ninfas na Grécia Antiga, rodeadas pela Natureza, o Destino e a Eternidade, numa ópera cuja espiritualidade é indiscutível, mas provavelmente também a base justificativa pela qual Cavalli é hoje praticamente ignorado, dado que as audiências preferem entretenimento mais “fácil”.
Apenas tenho conhecimento de uma gravação que junta Ileana Cotrubas e Janet Baker, feita no festival de Glyndebourne nos anos 60.
Ei-las:


quarta-feira, 23 de julho de 2008

Óperas pouco ouvidas (4)

“The Bartered Bride”, ou em tradução portuguesa “A Noiva Vendida”, é sem dúvida a ópera mais conhecida de Smetana (1824-1884), que podemos considerar o criador da ópera checa.
Smetana foi um menino-prodígio, dando o seu primeiro concerto público de piano com 8 anos. Muito apoiado por Liszt, foi mestre de música de famílias nobres, professor em Gotemburgo, cidade onde regeu durante anos a Orquestra Filarmónica local, fundador de escolas de música tradicional no seu país, tendo composto as primeiras obras levadas à cena no Teatro Nacional Checo, a partir de 1864.
“The Bartered Bride” tornou-se um sucesso internacional, apesar de estar repleta de melodias e danças tradicionais checas. Ainda que dependendo do conhecimento da língua original para uma total compreensão, este tipo de óperas tem naturalmente dificuldade em impor-se no estrangeiro. Mas esta ópera, em concreto, foi a única de Smetana que conseguiu esse reconhecimento fora das fronteiras.
Curiosamente, aquando da sua estreia, em 1866, em Praga, foi muito criticada por parecer muito “Wagneriana” e fugir à tradição checa.
Há uma gravação “clássica”, com Pilar Lorengar e Fritz Wunderlich, não muito fácil de encontrar. Mas há uma outra, talvez não tão rara, com Gabriela Benackova e Peter Dvorsky, de muito bom nível.
Vamos ver e ouvir a “Abertura”, uma das partes mais conhecidas.


quinta-feira, 17 de julho de 2008

Óperas pouco ouvidas (3)


Quando Caruso fez da ária “M’appari” um sucesso estrondoso, poucos acreditariam que a ópera, em quatro actos, “Martha”, de Friedrich Von Flotow, acabaria praticamente esquecida do grande público, ou mesmo dos apaixonados pela arte lírica.
Flotow (1812-1883) não foi, na verdade, um grande compositor, embora tenha escrito dezenas de peças musicais, de fama efémera.
“Martha” é, apesar de tudo, a sua obra mais importante, tendo sido estreada em Hamburgo em 1844. E curiosamente, a célebre ária não fazia parte da partitura original, tendo sido acrescentada para uma representação da ópera em Paris, em 1865.
Os mais atentos lembrar-se-ão que Alfredo Kraus, na interpretação desta ária, “ressuscitou” a espaços a atenção para “Martha”.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Óperas pouco ouvidas (2)

Estreada em Paris em 1900, “Louise” é talvez a única ópera que o seu compositor, Gustave Charpentier (1860-1956), conseguiu passar à posteridade.
E se muitos consideram que a verdadeira heroína desta ópera é a cidade de Paris e não propriamente Louise, a verdade é que todos conhecem a célebre ária “Depuis le jour” cantada pela personagem principal.
O enredo, simples, trata de uma história de amor entre Louise e Julien, contrariado pela mãe de Louise, que não quer que a filha case com um artista.
Há duas gravações de referência, uma com Ileana Cotrubas, Placido Domingo, Jane Berbié e Gabriel Bacquier, e outra com Beverly Sills, Nicolai Gedda, Mignon Dunn e Jose Van Dam.
Prefiro a primeira.
Vamos ver e ouvir Renée Fleming exactamente em “Depuis le jour”. Excelente.


terça-feira, 8 de julho de 2008

Óperas pouco ouvidas (1)


Muitos classificam-na como a ópera húngara mais importante do século XX.
“O Castelo do Barba-Azul”, de Bartok.
Ópera em 1 acto, estreou-se em Budapeste em 1918, e só muitos anos depois em Berlim (1929), Nova York (1952) e Londres (1954).
Notam-se influências claras de “Lohengrin”, no carácter reservado do protagonista, escondendo a sua vida privada, não querendo mostrá-la. Também Bartok protegia a sua intimidade, e consta que se terá inspirado num amor não correspondido para compor esta Ópera.
Um soprano e um baixo apenas, numa ópera em que o som tradicional húngaro aparece quase espontaneamente.
Há três gravações de referência : Christa Ludwig com Walter Berry, Troyanos com Siegmund Nimsgern e Eva Marton com Samuel Ramey.
Pessoalmente, entendo que nenhuma iguala a primeira, mas no mercado só se encontra a última, com facilidade.
Recomendo.
Neste clip vamos ter Sylvia Sass e Kováts, dirigidos por Solti.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Carla Basto

Há casos assim, mas no meio lírico português, onde os verdadeiros talentos não abundam, causa estranheza e mesmo perplexidade não se saber, com exactidão, o que aconteceu a uma das melhoras cantoras.
Refiro-me a Carla Basto, soprano.
Nascida em 1955, recebe de Gino Bechi as primeiras lições, estreando-se em 1972 na “Papagena” da “A Flauta Mágica”, no saudoso palco do Trindade.
No ano seguinte canta a “Sophie” do “Werther”, e marcaria presença em muitas óperas nas temporadas seguintes.
Quando a Companhia Portuguesa de Ópera se extingue, Carla Basto parte para Milão, onde se inscreve no Conservatório de Vercelli. A sua estreia em palcos italianos acontece em 1977, na “Musetta” de “La Bohème”.
Um espectáculo na RAI abriu-lhe então outras “portas”, e em 1979 a cantora portuguesa actua na Colômbia, e depois em São Paulo, Barcelona, Klagenfurt, Rio de Janeiro e França. Em 1981 está em Dublin, como protagonista da “Lucia”, e no fim desse ano no Peru, com Luigi Alva no “Barbeiro de Sevilha”. E daí parte para as Canárias, onde canta, com Alfredo Kraus, “Os Contos de Hoffmann”.
Só volta a Portugal em 1986, onde cantou, em S.Carlos, “O Rapto do Serralho”.
Depois…desapareceu….
Quantas cantoras portuguesas têm uma carreira com esta qualidade?
No entanto, ninguém sabe quem é Carla Basto, onde está, se ainda canta….
Só em países com grande riqueza de talentos é possível um caso destes….
Sabemos da existência de uma gravação da “Missa” de Catalani, feita em 1985, e nada mais.


Fonte: Cantores de Ópera Portugueses”, de Mário Moreau, Vol. III
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