segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

A "Grande"



Até eu estou admirado de ainda não ter referido Maria Callas neste blogue.
Mas é hoje, neste ano em que se perfazem 30 anos sobre a sua morte.
Por quase todos considerado o maior soprano da História, pelo menos desde que há registos sonoros. Restam os “fanáticos” de Renata Tebaldi, mas disso falarei em “post” posterior.
Uma voz única, uma arte de representação fantástica (e sabe-se como isso é fundamental), uma presença em palco fascinante, tudo isso e a sua vida particular, fizeram dela um mito que perdurará pelos tempos fora.
Tem 52 óperas gravadas, mas infelizmente poucos registos em DVD.
É quase injusto distinguir os seus papéis, mas deixo apenas uma menção a “Norma”, até hoje inultrapassável, na minha opinião.
A cantora só uma vez esteve em Portugal. Cantou “La Traviata” em S.Carlos em 1958, ao lado de um então jovem tenor espanhol, Alfredo Kraus, que depois se tornaria presença constante em Lisboa, até ao fim da sua carreira.
Da cantora tudo se sabe. Da mulher bem menos. E o sucesso da primeira, nem sempre andou em paralelo com a felicidade da segunda.
Foi Callas a autora das seguintes frases, que revelam bem que, para além da artista, estava uma mulher atenta e com discernimento:

“Não sou um anjo nem pretendo ser. Esse não é nenhum dos meus papéis. Mas também não sou o diabo. Sou uma mulher e uma artista séria, e como tal gostaria de ser julgada”

“Não preciso de dinheiro, trabalho pela Arte”

“Os amigos verdadeiros são muito especiais, mas temos de ter cuidado, porque muitas vezes pensamos que temos um amigo feito de pedra e de repente apercebemo-nos que é feito de areia”

“Nasce-se ou não artista. E é-se artista mesmo se a voz fraqueja. O artista fica lá sempre”

“A minha visão fraca traz-me uma vantagem, não consigo ver o público a coçar a cabeça enquanto me entrego completamente ao meu papel e dando tudo o que tenho”

“Preparo-me para os ensaios como me prepararia para o casamento”

“No palco, estou na escuridão”

“Primeiro perdi a minha voz, depois a minha figura, e agora perdi Onassis”

Na verdade, para uma cantora como Callas, perder a voz e depois a grande paixão da sua vida, deve ter sido tremendo.
Decisivo e determinante, para o que sucedeu naquela manhã, em Paris.
Estávamos em 1977 e Maria Callas tinha 54 anos.

7 comentários:

Caiê disse...

Tenho, por herança genética, uma paixão quase absurda pela ópera. Consigo perceber Callas muito bem, nessa sua frase. Os temperamentos intensos sempre me fascinaram. A mediocridade é que é insuportável.

Anónimo disse...

A Ópera faz parte de mim.
Callas é, para além da Diva, uma mulher por inteiro. Nunca se contentou com a mediania.
E obrigado pelo seu comentário.

teresamaremar disse...

.............
doeu-lhe a voz quando a alma lhe doeu?

“No palco, estou na escuridão”
Na vida maior escuridão.

o mundo aos pés, menos o único homem que queria

... desistência?
... uma morte induzida?

Porque o sucesso e o reconhecimento só valem quando há com quem os partilharmos.

Paz. Que descanse em paz.

Anónimo disse...

Estará certamente em Paz, sabendo que ocupa o primeiro lugar no Olimpo das cantoras, de onde muito dificilmente será destronada.
E partilha essa glória com milhares de admiradores que nunca a esquecerão.

Anónimo disse...

eu sou muito fã de maria callas, mas muitos são. não é original :) eu vou bastante num blog de música clássica que gosto muito, se quiser conhecer: http://falardemusica.blogspot.com/ beijos, pedrita

Anónimo disse...

Olhe que tinha 53 anos quando morreu.

Não custa nada verificar.

Anónimo disse...

Meu caro Quintela Soares, sou também grande admirador da Callas. Felicito-o pelo uso da palavra soprano enquanto masculino. "A soprano" é algo que não gosto de ler. Contudo, eu diria: considerada o soprano, no lugar de considerado o soprano. O registo é masculino, mas Callas é feminino.

Parabéns pelo texto,é sempre um prazer ler.

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