quarta-feira, 16 de maio de 2007

Que inveja!

Na excelente revista espanhola “Ópera Actual”, li um artigo sobre a situação actual do espectáculo lírico no país vizinho, que além de alguma escondida inveja, me deixou impressionado. Não por pensar que “nuestros hermanos” estavam condenados à mesma “vil tristeza” que nós, mas porque de facto é outro mundo, e mesmo aqui ao lado.

Diz a articulista, Mercedes Pons, que até há duas décadas, a ópera só chegava a meia dúzia de cidades.
Primeiro ponto de reflexão. A quantas cidades portuguesas chega, hoje em dia, a Ópera?
Depois enuncia o “Top 10” das óperas que Espanha viu nos últimos 10 anos:

La Traviata (45 produções)
Rigoletto
Madame Butterfly
La Bohème
Tosca
Zauberflaute
Don Giovanni
Carmen
Cosí Fan Tutte
L’Elisir d’Amore (25 produções)

Segundo ponto de reflexão. Não lhes parece que para além de satisfazer o público mais conhecedor, houve igualmente a preocupação de captar novas audiências?

E Mercedes Pons termina o seu artigo lamentando que os maiores intérpretes actuais actuem poucas vezes em Espanha, e cita, entre muitos, Flores, Villázon, Kasarova, Larmore, Dessay. Sem esquecer aqueles em fim de carreira, como Ramey, Marton, Meier, Anderson, Van Dam.

Ou seja…é outra constelação….

Destes nomes, os poucos que Portugal teve oportunidade de ver, foi em recitais na Gulbenkian, e nunca numa ópera completa em S.Carlos, por exemplo.

Não posso terminar, sem referir um facto sintomático.
Huelva.
Pequena, muito pequena cidade espanhola.
Pois o seu “Ayuntamento” (a Câmara Municipal), com o apoio de um banco, acaba de formar a Orquestra Sinfónica de Huelva, com mais de 60 elementos.

Palavras…para quê?

3 comentários:

Anónimo disse...

Portugal devia ter em conta os bons exemplos que vêm de fora e ser mais empreendedor cá dentro com os nossos cantores, sem esquecer os grandes artistas que também fazem falta no panorama lírico do país. O ideal seria existir uma nova companhia de ópera para os novos cantores portugueses e um Teatro Nacional de São Carlos mais activo, cada um com a sua orquestra estável.

MCA disse...

E Mercedes Pons termina o seu artigo lamentando que os maiores intérpretes actuais actuem poucas vezes em Espanha

Eu acrescentaria outra reflexão: é que eles queixam-se da falta dos maiores intérpretes actuais porque eles dão prioridade aos intérpretes espanhóis. Nós, por cá, nem temos os maiores intérpretes actuais, nem damos lugar aos nossos. Que, se tivessem uma oportunidade, também poderiam tornar-se grandes intérpretes internacionais.

Pois o seu “Ayuntamento” (a Câmara Municipal), com o apoio de um banco, acaba de formar a Orquestra Sinfónica de Huelva, com mais de 60 elementos.

Onde é que, em Portugal, há um banco que patrocine uma orquestra sinfónica?...

José Quintela Soares disse...

Eu diria que por cá...vamos tendo em S.Carlos cantores estrangeiros de segundo plano, que não fazem muita diferença dos portugueses. Seria preferível, evidentemente, dar prioridade a estes. Há cantores portugueses de qualidade que passam ao lado de uma boa carreira, completamente esquecidos e sem trabalho. Custou ver o tenor Carlos Guilherme, que durante anos foi o nosso melhor, a fazer anúncios de peixe congelado na tv.

Quanto a Huelva e ao banco, mesmo que em Portugal houvesse uma entidade que patrocinasse a Orquestra, haveria Câmara??

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