quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Ópera e Televisão



Eu sei que as televisões, públicas e privadas, vivem da publicidade, e que esta procura os programas de maior audiência, para aparecer em avalanches de patéticos anúncios.
Como estes programas são, quase sempre, para as grandes “massas”, pouco exigentes, temos diariamente, no horário nobre, novelescas e secas tramóias de alguidar, produções luso-brasileiras para contentar os dois lados do Atlântico e pouco mais.
E as minorias?
Os que, por exemplo, gostam de ópera?
Qual a resposta da televisão pública a estas questões?
Sabem há quanto tempo a televisão não transmite uma ópera?
Eu sei, mas deixo à vossa curiosidade. Verão que quando descobrirem, acharão impossível.
E digo ainda que essa última oportunidade que os senhores responsáveis nos deram de assistir em casa a um espectáculo lírico, começou, num dia de semana, à 1,20 da manhã, e teve a duração de 191 minutos, com um intervalo de 6 minutos. Ou seja, deitei-me perto das 5 da manhã…
E depois ficam espantadíssimos a olhar para o ridículo “share” que estas transmissões originam, e que servem de justificação para não voltar a repetir.
É uma vergonha!
Aqui ao lado, a televisão pública espanhola, cuja (falta de) qualidade é idêntica à nossa, teve a preocupação de criar um canal, estilo “RTP Memória”, onde passa concertos, ópera, bailado, antigos e recentes.
Isto já é serviço público.
Até que alguma alma caridosa se lembre deste e de outros exemplos, resta-nos comprar e ver os DVD que vão saindo.
Sina de português minoritário…

8 comentários:

teresamaremar disse...

Somos uma sociedade consumista em que as minorias pouco contam. E não contam porque não r(v)endem.
O imediato, que não obriga a pensar, porque de fácil consumo, é o que mais vende. As minorias não dão lucro, não se encontram associadas à publicidade, delas não resultam receitas.
É verdade, mas há uma verdade maior.

Um Estado evoluído aposta no pensamento crítico e activo. (In)Forma. E o pressuposto fundamental seria que os meios de comunicação, à luz desses valores, tivessem uma função de entretenimento, cultural e educativa. Porém, despertar (para) outros interesses, ditos mais formativos, implicaria novos, maiores e melhores investimentos governamentais.
Daria trabalho, custaria dinheiro. E “educaria”.
O passível de causar “mal estar”, polémica ou um despertar não pode “passar” em horário nobre. Nem “passar” frequentemente.

Os seres pensantes questionam. Quanto menos pensantes formos, menos exercitarmos o nosso pensamento próprio, e menos interesses tivermos, mais manipuláveis somos.

Anónimo disse...

Concordo quase em absoluto.
Mas...os governantes e as chefias, por estes nomeadas, que dominam a coisa pública, não estão lá para trabalhar, investir e educar? Ou, pelo contrário, descansam, gastam e analfabetizam? Então, qual a diferença entre um Estado democrático e uma ditadura? Onde se encontra a "valorização da cultura do Povo"?
Continuamos a ser o país dos três "F"?
Francamente...que seria o quarto.
Obrigado pelo seu comentário.

teresamaremar disse...

Deveriam estar lá para tudo isso,

não estão.


O seu post (de)mo(n)stra bem o estado do que o Estado faz.



Lembrei, entretanto, daquelas noites de Teatro... todas as semanas pontuais, (2ª feira, não era?)

:)

Anónimo disse...

Exactamente, às segundas.
Quem esquecerá "As Àrvores Morrem de Pé" com a grande Palmira Bastos?
Era a preto e branco, mas o pequeno écran parecia um arco-íris com aquela constelação de talento.
Mas enfim...o "progresso" já não deixa lugar para coisas "retrógradas"...

Teresa disse...

Desculpe a intromissão, mas acabo de descobrir o seu blog no A Biblioteca de Jacinto e vai já direitinho para os favoritos.

Julgo que essa última transmissão de ópera de que fala terá sido o "Ouro do Reno", estou enganada? Para cúmulo do azar só descobri no dia seguinte.

Há uns dez anos a 2 ainda ia dando uma ópera de duas em duas semanas, à segunda-feira, gravei preciosidades. Agora o cenário é paupérrimo. Uma tristeza. Tal como ontem convidei a simpática "bibliotecária" do 202, também o convido a visitar-me, expecialmente neste post e no seguinte, talvez ache graça. Dame Joan Sutherland - La Stupenda

Teresa disse...

P.S. Apesar de ser muito miudita na altura, lembro-me perfeitamente de ter visto! As Árvores Morrem de Pé". Pelo menos duas vezes.

E, mais tarde, as peças do Maria Matos, que depois eram transmitidas na televisão. Foi assim que descobri o extraordinário Arthur Miller (também tenho paixão por Teatro).

Anónimo disse...

Olá Teresa
Muito obrigado pela sua visita e por ter colocado o "OperaPerTutti" nos seus links,o que retribuirei de seguida.
Quanto ao "Ouro do Reno"...acertou!
Um atentado começar uma ópera como esta já depois da uma da manhã, mas de facto asim foi.
É o país que temos.

MCA disse...

Eu tomei uma opção radical: não tenho televisão.

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