Os mais conservadores e tradicionalistas quase desmaiam de susto nas cadeiras, enquanto uma vanguarda aberta à novidade aplaude, exuberante.
Eu sei que tudo evolui. Que os adereços têm custos exorbitantes.
E que a ópera, como outros espectáculos, precisa de atrair novos públicos, de gerações recentes, pois sem público não há receitas e sem estas não há encenações, novas ou velhas.
O festival de Salzburgo, um marco na história lírica, abriu decididamente as portas a estas encenações a partir de 2006, merecendo críticas acérrimas por parte de muitos colunistas que escrevem nas revistas da especialidade.
Bayreuth parece bem mais reservado a esse tipo de experiências, embora se aguardem novidades para breve…
E se os palcos italianos não aderiram à “moda”, salvo raríssimas excepções, o mesmo não se poderá dizer de Zurique, Amesterdão, Paris e mesmo Covent Garden. E Nos Estados Unidos há exemplos para ambos os lados.
Comparem estas duas fotografias com versões “antiga” e “moderna” da “Manon Lescaut”. Bem elucidativas.
Creio que, feliz ou infelizmente, a tendência é para a generalização do “moderno”.
Feliz ou infelizmente?
4 comentários:
Já vi encenações ao estilo da época da ópera ou deslocadas do período, mas a simbolizar uma época, com todos os adereços tradicionais e bom gosto, mas também já as vi de mau gosto... o mesmo se passa com encenações modernas, minimalistas e cheias de simbolismos, uma vezes com bom gosto, outras altamente infelizes. Uma coisa verifico, uma encenação contemporânea minimalista obriga a uma maior concentração nos interpretes, logo é sempre um risco maior e, por vezes, são muito herméticas e difícil de entender.
Acho que Manon Lescaut é um mau exemplo porque é uma ópera que depende muito do contexto histórico em que se insere. O mesmo vale para óperas como Tosca, La bohème, Aida, etc..
Mas quanto às outras... Creio que muitas das 'novas' produções até dão maior vitalidade à ópera do que as antigas, mais cor. Estou-me a lembrar de S. Carlos esta temporada, por exemplo. A 'Tosca' não me agradou particularmente, mas a encenação 'modernista', embora por vezes minimalista, de Les contes d'Hoffman resultou na perfeição, a meu ver. Em óperas que apelam mais para o imaginário que para a acção em si, mais para o metafísico do que para o concreto, acho que este tipo de conceito só ajuda a percepcionar melhor o texto e a temática. :)
Certamente, é uma questão de gosto pessoal.
Mas quando assisti "O Rapto do Serralho" em DVD, do Festival de Salzburgo de 2006, confesso que fiquei decepcionado.
Até o Pasha Selim tiraram da história... ridículo se acharem tanto assim no direito de mexer até nos personagens de uma ópera.
Fora o ar de modernidade, que achei exagerado.
Ao passo que em "La Finta Semplice", eu até gostei. Então é muito variável.
Quanto às óperas que impõem mais o imaginário que a ação, acho que são um convite para quem está começando, nunca mais voltar a assistir.
Se a maioria já tem uma idéia pré-concebida de que ópera é uma coisa chata, imagine assistir uma em que não acontece quase nada em termos de ação... não dá.
"Feliz ou infelizmente?".
É uma ótima pergunta..., acho que cada caso, vai receber uma resposta diferente.
Eu vi imagens da encenação dos Contos de Hoffmann do São Carlos e, com todo o respeito, achei um exemplo quase perfeito do chamado "eurotrash". Alguém que assistiu, transmitiu-me a mesma impressão. Convido-os a procurarem um outro exemplo desta "tendência", neste caso, uma produção do Nabucco passada numa colónia de abelhas. Ridículo.
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