segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Génese de Grandes Óperas (1)


“Isto é detestável. Nunca será representada…Este homem ri-se de tudo o que devia ser respeitado num governo”. Palavras de Luís XVI, a propósito da peça “As Bodas de Fígaro”, escrita por Beaumarchais (na foto), que acabara de ler.
Antes desta, “O Barbeiro de Sevilha” fora um sucesso, e todos haviam identificado Fígaro com o próprio Beaumarchais. Mas nas “Bodas”, o escritor ousa mais, ridicularizando a nobreza e colocando em discussão o chamado “direito do senhor”, que consistia no privilégio de qualquer nobre passar com a noiva, a primeira noite após o casamento de uma serva.
Crítico e rebelde, Beaumarchais arriscava, não se importando com as consequências.
Em Viena, Lorenzo Da Ponte era o poeta que trabalhava com Salieri.
E será bom não esquecer que a vida amorosa de Da Ponte está repleta de casos pitorescos, que o levaram, por exemplo, a fugir de Itália em 1779, por ter sido condenado em Veneza, por adultério e concubinagem…
E Mozart chegara igualmente a Viena, depois de ter sido despedido pelo arcebispo de Salzburgo, cansado das “loucuras” do Génio.
Da Ponte admirava Mozart, e pediu-lhe se podia escrever um “libretto” para ele.
Mozart acedeu, mas disse-lhe para adaptar a peça de Beaumarchais, que já conhecia. Assim, enquanto um trabalhava no “libretto”, Mozart compunha a música.
“As Bodas de Figaro” foram novidade no mundo da ópera, muito mais complexa do que qualquer outra até aí estreada. O êxito foi muito maior em Praga do que em Viena, porque a educação musical era incomparavelmente maior em Praga. Mal sabiam que esta seria apenas a primeira de muitas óperas absolutamente extraordinárias que o génio de Mozart deixaria à Humanidade.
Da Ponte e Mozart imortalizaram Beaumarchais, ou seja, o próprio Fígaro.

2 comentários:

Carlos Faria disse...

Gosto muito das Bodas de Fígaro, mas o que me impressionou no post foi a ideia de que Praga musicalmente estava melhor preparada para a música do que Viena, que se imagina ser um dos impérios musicais de sempre, Será que hoje tal ainda acontece?

José Quintela Soares disse...

Caro Geocrusoe

Viena sempre foi o tal "império" musical de que fala, mas Praga...
Bastará dizer que durante séculos, as famílias ricas e da nobreza patrocinavam os estudos musicais a jovens cujos talentos impressionassem,e não tivessem meios para estudar.Pagavam-lhes tudo até que arranjassem colocação. Os professores das escolas que frequentavam, eram obrigados a escrever anualmente uma nova "Missa", que os estudantes executariam. O conhecimento musical era muitas vezes considerado um pré-requisito para um emprego, e até para entrar no serviço militar.
Não admira portanto que o público de Praga estivesse bem melhor preparado para aceitar as "Bodas", reconhecendo-lhe a qualidade devida.

Um abraço.

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