Ouçamos uma “preciosidade”.
Do “Requiem”, duas intérpretes de excepção, Fiorenza Cossotto e Leontyne Price.
Perguntaram a Maria Callas o que era a Ópera. A resposta foi rápida e curta : "Verdi".
Há muitos, muitos anos, ofereceram-me uma ópera de Wagner.
Eu ainda era jovem, e a ópera italiana preenchia todos os requisitos que julgava necessários para se gostar verdadeiramente de ópera.
Verdi, Puccini, Donizetti, Bellini e Rossini.
Mas…quem me deu aquele presente achava que ia sendo tempo…de conhecer o mestre alemão.
E escolheu “O Ouro do Reno”.
Antes, explicou-me o “Anel” em pormenor, deixando-me um pequeno livro com a história completa, em tradução brasileira, preciosidade que ainda hoje guardo.
Li.
Ouvi a ópera.
E não gostei.
Durante muito tempo, fui trocando argumentos.
Mas continuava a não gostar.
A situação só se alterou anos depois, isto é, na altura própria, e hoje Wagner integra a minha discoteca com uma parte “de leão”.
Na minha opinião, para se gostar de Wagner é preciso ter maturidade.
Concordam?
Hoje em dia, são poucos os que se lembram de Fritz Wunderlich (1930 – 1966), tenor alemão que morreu muito novo, mas que se celebrizou, ainda assim, na interpretação das óperas de Mozart.
Com muitas dificuldades económicas, trabalhava desde jovem numa pastelaria, custeando dessa maneira os estudos musicais, incentivado pelos clientes que o ouviam cantar enquanto trabalhava.
Com uma voz cristalina, Wunderlich também se notabilizou nos ciclos de Lieder de Schubert e Schumann.
Uma queda numas escadas terminou abruptamente uma carreira de sucesso, e ainda pior, uma vida que alcançava a glória por que tanto lutara.
Ei-lo no Tamino da “Flauta Mágica”.
Incorporado no exército alemão com apenas 18 anos, em 1943, Dietrich Fischer-Dieskau seria, pouco tempo depois, capturado pelos aliados em Itália, passando os dois anos seguintes como prisioneiro de guerra. E é nessas circunstâncias que começa a cantar Lieder para os seus companheiros de prisão.
Apesar de ter interpretado muitas Óperas, principalmente na Alemanha, mas também em outros palcos europeus, este grande barítono é um dos “ex-libris” do Lieder.
Na verdade, começando bem cedo (desde 1951) a gravar, acompanhado por virtuosos do piano como Gerald Moore, Dieskau ocupa um lugar ímpar, a tal ponto, que numa sondagem recente, levada a efeito por uma revista norte-americana, o barítono aparece no Top 10 dos melhores cantores de sempre.
Pessoalmente, gosto bem mais de o ouvir em Lieder do que em Ópera. Julgo que, para muitos papéis, lhe falta a “emoção” dos grandes barítonos italianos, sem a qual muitos papéis ficam... sem graça.