
“Depois de décadas como tenor, o maestro espanhol regressa às suas origens de barítono”.
Assim intitula James Naughtie o seu recente artigo sobre Plácido Domingo no “Telegraph”. Muito elogioso e concordante.
Sou um mero apreciador de Ópera, mas não alinho neste aplauso.
Domingo foi, é e será sempre, para mim, um tenor, um dos grandes do século XX. Completo (mais do que Pavarotti, por exemplo), uma grande voz e um bom timbre.
Tenor, senhores.
Quando o vi, pela primeira vez, a reger uma orquestra, percebi a intenção. Queria ficar ligado ao mundo da lírica quando a voz desaparecesse. Lógico. E se tinha qualidades de regência, tudo bem. Perdia-se um tenor, ganhava-se um maestro.
Mas perto dos 70 anos cantar papéis de barítono, por muito bem que o faça, santa paciência! Faz-me lembrar aqueles futebolistas famosos que não conseguem encarar de frente o fim das suas carreiras, e se arrastam pelos campos em clubes secundários, manchando tudo quanto de bom fizeram no passado.
Plácido Domingo devia retirar-se.
Ninguém lhe retira o justo lugar que tem na história da Ópera, a par de Caruso, Gigli, Bjorling, Corelli, Del Monaco, Pavarotti.
Tenores.
Como ele.