segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Fiasco


S.Carlos assistiu à estreia mundial de “Das Marchen”, de Emmanuel Nunes.
Mas não só o teatro de Lisboa. Outras 14 salas nacionais, de Ponte de Lima aos Açores, tiveram oportunidade de ver, em ecrãs gigantes. Com discursos e tudo, como o da Ministra da Cultura, que classificou a iniciativa como um “esforço de abertura da ópera contemporânea à comunidade”.

Perante isto, aqui deixo três perguntas:
- Num país que não conhece ópera, optar pela contemporânea não será querer ir longe de mais?
- Ainda que se trate de um compositor português, é “chamariz” para o grande público?
- Não seria preferível este tipo de iniciativas com óperas conhecidas e árias “eternas”?

Defendo “Opera per Tutti”, não apenas para uma elite intelectual que entende Emmanuel Nunes como a “chave” para um maior conhecimento e divulgação da arte lírica.
Porque não é nem será.

Primeiro sinal claro de que tenho razão: metade do público que enchia S.Carlos…saiu no intervalo….

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Zarzuela

Admiram-se muitos da quantidade e qualidade dos cantores espanhóis ao longo dos tempos.
Para citar apenas alguns dos nomes mais conhecidos, temos Placido Domingo, Montserrat Caballé, José Carreras e Alfredo Kraus, mas também Teresa Berganza, Victoria De Los Angeles, Pilar Lorengar e Juan Pons. Mas mais haveria para citar.
Porque será?
A resposta é simples.
Em Espanha existe a “zarzuela”, um estilo de opereta muito popular, e que funciona como verdadeira escola de canto.
Entre as mais populares, lembro “Luísa Fernanda” e “La Verbena de la Paloma”, mas há dezenas conhecidas por todos. Nelas estão “árias” que todos sabemos cantar.
Interessante realçar o carinho do povo espanhol pela “zarzuela”, não a deixando desaparecer, contrariamente a outros povos que desprezam as suas tradições, como o teatro de Revista, em Portugal.

Vamos ouvir Placido Domingo no “Ay, Mi Morena”.
Ouçam bem. É fantástico!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Hugo Casaes


Vou hoje recordar aquele que muitos consideram como um dos bons barítonos portugueses.
Hugo Casaes (1919 – 1989).
Após alguns papéis em óperas portuguesas, parte para Milão em 1953, como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, onde estudou canto e representação. Daí segue para os Estados Unidos, onde uma brilhante carreira o esperaria, se o famigerado “fado” da saudade do português o não tivesse obrigado a regressar a Portugal, onde é de imediato contratado pelo S.Carlos. Estreou-se com a “Cavalleria Rusticana” ao lado de Giulietta Simionato.
E não mais parou.
Indispensável nas várias produções de ópera, maioritariamente com cantores portugueses, que o Trindade mas também o S.Carlos levavam à cena, Casaes deslocava-se frequentemente a Itália, “mercado” que o conhecia e apreciava.
A célebre e saudosa crítica musical Maria Helena de Freitas, escrevia a propósito do seu “Conde” das “Bodas de Fígaro”, ser “uma criação ao nível internacional”.
Com o fim da Companhia Portuguesa de Ópera, em 1975, a carreira de Casaes, como a de muitos outros cantores portugueses, sofreu um duro golpe.
Alguns recitais espaçados, intervenções aqui e ali, mas longe do apogeu dos anos 50 e 60.
Um grande barítono português.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

1 ano.

1 ano de “Opera Per Tutti”.

Escrevi no primeiro dia:

“É bem português, apesar do italiano que lhe vai no título. De um português que tem pela Ópera uma paixão antiga e crescentemente acesa, que aquece e retempera. A ópera não é, nem deve ser, uma arte para elites, tal como o não são o teatro, o cinema e outras Artes. O canto lírico deve estar acessível a todos, ainda que a sua divulgação, em Portugal, seja uma “vil tristeza”. “Opera per Tutti” quer-se dinâmico, interventivo, informativo e aliciante. Tarefas difíceis de cumprir, mas que norteiam o despertar deste sonho antigo, contribuir para um maior conhecimento do “bel canto”. Para todos. Será bom não esquecer, para os mais e menos informados, os que gostam e os que, não conhecendo, afirmam não gostar. O mundo da lírica é surpreendente. Vamos demonstrá-lo!”


Obrigado a todos os que, lendo-o e comentando-o, me têm incentivado.
Continuemos!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Svetla Vassileva


“Descobri-a” há poucos dias, numa transmissão de “Os Palhaços”, no Mezzo.
Svetla Vassileva.
Soprano de indiscutível categoria, uma bela voz a que associa uma capacidade notável de interpretação. Nunca a tinha ouvido, nem sabia da sua existência.
Uma busca rápida ao “You Tube”, e ei-la numa “La Traviata” bem recente.
Ouvi e gostei muito.


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Piero de Palma

Ninguém o conhece. Pelo menos, ninguém o recorda.
No entanto, em qualquer discoteca particular de boa ópera, é um dos cantores mais presentes, em papéis secundários ou quase insignificantes.
Piero de Palma. Tenor.
Ou era o mensageiro, ou o pajem, aquelas personagens que se limitam a cantar uma ou duas frases, para bem dos nossos ouvidos, na maioria dos casos.
Esteve ao lado de todas as grandes “estrelas”, dos grandes maestros, nos palcos mais famosos, e nunca saiu do anonimato.
Os conhecedores até brincavam com a sua carreira, tão longa ela foi, sempre como “muleta” dos grandes cantores.
E pensando friamente, sem este tipo de cantores não haveria ópera, pois se os papéis existem alguém tem de os interpretar.
Procurem nas célebres gravações, por exemplo, de Maria Callas, e verifiquem se não está lá, perdido nos elencos, o nome de Piero de Palma. Confiram na “Traviata” de 1958 em S.Carlos. Depois, com paciência, escutem as suas pequenas intervenções.
Até nem era assim tão mau …
Com Piero de Palma, quero chamar a atenção para cantores desconhecidos, mas sem os quais não haveria ópera.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Galina Vishnevskaya

No seio das divas russas, o soprano Galina Vishnevskaya (nasceu em 1926) ocupa posição de destaque.
Tudo começou com interpretações de opereta, em 1944, e com a vitória, no ano seguinte, num concurso organizado pelo Bolshoi, onde cantou “O Patria Mia” da “Aida”. Integrou desde então a companhia desse famoso teatro.
E só se estreia no MET em 1961, exactamente na “Aida” e em 1962 em Londres com a mesma ópera. O La Scala esperaria até 1964 para a ver na “Liù” de “Turandot”, num elenco de luxo com Birgit Nilsson e Franco Corelli.
Casada com o violoncelista e chefe de orquestra Mstislav Rostropovich, deixaram a União Soviética em 1974, vivendo quer em Nova York quer em Paris.
Vishnevskaya despediu-se dos palcos em 1982 como “Tatyana” do “Eugene Onegin”, voltando a Moscovo e aí inaugurando o “Centro de Ópera Galina Vishnevskaya”.
E se tiverem oportunidade, vejam o filme “Alexandra”, do realizador Sokourov, de 2007, onde o grande soprano, com mais de 80 anos, interpreta uma fabulosa “avó”.
Ouçam qualquer gravação dela.
É fantástica.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Elizette Bayan

“Uma das mais espontâneas, irreprimíveis, prolongadas e vibrantes ovações que alguma vez se ouviram no Coliseu, num espectáculo de ópera, premiou, na terça-feira, uma cantora portuguesa: Elizette Bayan. Tudo quanto pode alcançar-se de superlativo na “cena da loucura”, em agilidade vocal e representação, foi conseguido por Elizette Bayan duma maneira espantosa. O público que enchia o Coliseu, maravilhado e surpreso, reteve dificilmente o seu entusiasmo e explodiu numa ovação colossal. As palmas e os bravos demoraram longos minutos e acenderam-se as luzes de honra da sala, onde têm actuado tantas das maiores figuras da ópera.
Nada de mais justo! Cantar e representar assim só está ao alcance duma grande cantora – e grande cantora está Elizette Bayan. Esta “Lucia” constitui um marco importante e talvez decisivo na sua carreira. Já não estamos perante uma promessa, a “Lucia” do Trindade, centro de artistas – cantores que um crime de lesa cultura riscou do espaço operático português, mas sim diante do que é uma certeza absoluta: Elizette Bayan pode pedir meças a qualquer “Lucia” actual e figurar sem desdouro nos elencos dos grandes teatros de ópera. As palmas de Alfredo Kraus não as entendemos apenas como um gesto de camaradagem e simpatia, mas principalmente como o reconhecimento de quem está habilitado como poucos a apreciar e a distinguir. “Um caso notável” disse o famoso tenor espanhol! É o melhor e mais autorizado cumprimento que Elizette Bayan podia receber.”*

Estas palavras foram escritas por Fernando Pires, no “Diário de Notícias” de 20 de Maio de 1977, relativamente a uma “Lucia de Lammermoor” apresentada no Coliseu.
E depois delas, penso não ter nada mais a acrescentar sobre Elizette Bayan, uma grande cantora portuguesa, hoje praticamente esquecida, como é uso e mau costume entre nós.

(* Fonte do texto e fotografia: Mário Moreau: “Cantores de Ópera Portugueses”, Terceiro Volume, pag.873)

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