terça-feira, 26 de agosto de 2008

Génese de Grandes Óperas (4)


Numa noite de finais de 1891, um robusto inglês sentou-se numa mesa do “Grand Café” nos Capucines de Paris, e dirigindo-se ao chefe de orquestra disse:
“Estou a escrever uma peça sobre uma mulher que dança descalça sobre o sangue do homem que aprisionou e ama. Gostaria que tocasse algo que estivesse em harmonia com os meus pensamentos”. A música que se seguiu, embora de péssima qualidade, conseguiu calar por completo todas as vozes no café.
Então, o inglês, Oscar Wilde de seu nome (foto de cima), regressou a sua casa, onde nessa tarde tinha iniciado a sua peça, “Salome”. De madrugada, terminava-a.
Durante séculos, Salome tinha inspirado pintores (Rubens, Durer, Moreau, Ticiano) e autores (Flaubert, Heine, Mallarmé, Heywood), mas a história de Wilde é muito sua, independentemente dos elementos que possa ter retirado de outros.
Apesar de sempre o ter negado, é praticamente indiscutível, nos nossos dias, que Wilde escreveu Salome pensando na grande Sarah Bernhardt, e no escândalo que a sua interpretação causaria no público. A actriz nunca interpretou a personagem.
A peça foi levada à cena em muitos países e durante alguns anos, provocando reacções negativas e nunca saindo de um quase anonimato.
Até que Richard Strauss (foto de baixo), à época regente da “Royal Opera House” de Berlim, teve conhecimento da peça e imediatamente pensou que aquele enredo daria uma ópera de sucesso. Strauss, que já era um compositor reconhecido, eliminou algumas partes que achou desnecessárias, e completou a ópera em Junho de 1905.
Estreou em Dresden a 9 Dezembro do mesmo ano. Com dificuldades. A começar na protagonista, que achou a dança “demasiado indecente”, enquanto outros cantores reconheciam a extrema dificuldade dos seus papéis.
Mas a pouco e pouco, à medida que “Salome” ia sendo estreada em mais países, o sucesso foi sendo reconhecido, ainda que chocando algumas “sensibilidades”.
Mas, como Oscar Wilde referia “perdoa sempre aos teus inimigos. Nada os pode contrariar tanto…”

1 comentário:

Hugo Santos disse...

Salome e Elektra mostram um Strauss absolutamente visceral e, por essa mesma razão, irresistível.

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